sábado, 17 de janeiro de 2009

Flor de Inverno



Olho em redor. O lago está gelado. O ramo da árvore preste a perder-se na imensidão da neve. Nada está igual. Tudo mudou desde que parti, desde que deixei para trás a estranha que era. Volto e vejo a novidade, a mudança, a morte na sua ínfima espécie.

Procuro por vestígios de quem fui. Não os encontro. A neve cobre o chão e nada reluz sob o clarão tímido do sol. Nada permanece igual. Tudo se perdeu desde que decidi procurar por mim noutro lugar. Voltei e sei que não sou a mesma, não sou e nem vou voltar a ser...

Reparo nas pequenas flores de vidro. Estão prestes a quebrar-se. Com elas quebrar-se-ão todas as lembranças que ainda guardo deste lugar. Apagar-se-ão todos os vestígios, todos os sorrisos, todos os choros. Foi neste lugar que cresci, foi aqui que vivi e que morri para nascer novamente, bem longe. Ele é-me tão familiar, mas causa-me tanta estranheza.

Odeio ter que o dizer, mas... Não sei porque ainda aqui estou. Estou a olhar pela última vez, a deixar-me prender pelo redor, pela neve, pela infinita brancura da manhã. Sei onde pertenci, onde continuo a pertencer. Não é este o lugar que conheci, não é aqui que pertenço. Não é isto aqui... E, no entanto, a tentação de ficar, de me perder é tão grande...

Se o fizer, caminharei sobre a neve, quebrarei as pequenas flores, arremeçarei o ramo da árvore até ao lago, fixarei o olhar no sol... Aventurar-me-ei nesta terra infinita e perderei a identidade que ganhei, bem longe daqui.

Volto a olhar em redor. O caminho é longo. Dou o primeiro passo, deixo para trás o casaco. Uno a imaginação à memória e vejo finalmente esse lugar que tanto procurava. Vejo-me a mim e reconheço quem fui... Uma lágrima, um sorriso. Tudo voltou ao seu lugar. E ela está de volta, está finalmente presente: a minha infância, essa infância perdida para sempre - noutros tempos, neste mesmo lugar, neste mesmo ser, na mesma despedida amaldiçoada -, para nunca mais voltar...

Foto de Bristol Bound

1 comentário:

Teresinha disse...

Que bonito titah.. que palavras tão doces e tão cruéis..

Todos nos sentimos perdidos às vezes.. Mas nada como encontrarmos, como nos encontrarmos..:)

Beijinho grande
Gos'ti!:)*